A queda perverteu a
imagem de Deus segundo a qual o homem foi criado e que, em consequência disso,
a pessoa humana age pecaminosamente em sua relação com Deus, com o próximo e
com a natureza. Por causa da queda cada ser humano é fundamentalmente
egocêntrico e sem amor, odiando a Deus, odiando os outros e devastando a
natureza.
Se
Deus não refreasse a pecaminosidade humana seria impossível viver neste mundo.
Não
obstante as Escrituras declararem a depravação total da humanidade, muitos de
nós têm bons vizinhos, podemos confiar em pessoas com quem fazemos negócios.
Muitos de nós conhecemos pessoas que não obstante não serem cristãs, é amável,
prestativas e honestas. Como explicar isto? A resposta é o nosso estudo de hoje
sobre a Graça Comum.
Que
explicação podemos dar para a bondade que, em certa medida, constatamos nos
incrédulos?
Definição
de Graça Comum:
"Graça
Comum é a restringência e também a influência persuasiva do Espírito Santo
agindo através da verdade revelada no Evangelho, ou através da luz da razão e
da consciência, aumentando o efeito moral natural de tal verdade sobre o
entendimento, consciência e coração. Ela não envolve nenhuma mudança de
coração, mas simplesmente a melhora dos poderes naturais da verdade, a
restringência das paixões más, e o aumento das emoções naturais em vista do
pecado, do dever e do interesse próprio”.
"Graça comum é
cada favor de qualquer espécie ou grau, excetuando a salvação, que este mundo
imerecedor e maldito pelo pecado, desfruta das mãos de Deus"
Por
Graça Comum ou universal (porque alcança todos indiscriminadamente) entende-se
uma graça que restringe a manifestação do pecado na vida humana sem remover a
pecaminosidade humana, permitindo que incrédulos profiram muitas verdades e
produzam muitos feitos que são bons. É uma graça que refreia o pecado, porém
sem regenerar o ser humano.
1
– BASE BÍBLICA PARA A GRAÇA COMUM:
A
Bíblia ensina a existência de uma graça de Deus que restringe (freia) o pecado
na vida daqueles que não são o Seu povo.
Gênesis
20:6 "Respondeu-lhe Deus em sonho:
Bem sei que com sinceridade de coração fizeste isso; daí o ter impedido eu de
pecares contra mim e não te permiti que a tocasses." – Abimeleque não
era, obviamente, um crente. Todavia, Deus o impediu de pecar.
Romanos
1:24-28 "Por isso, Deus entregou
tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para
desonrarem o seu corpo entre si;
pois eles mudaram a
verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador,
o qual é bendito eternamente. Amém!
Por causa disso, os
entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural
de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza;
semelhantemente, os
homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente
em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si
mesmos, a merecida punição do seu erro.
“E, por haverem
desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição
mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes,”.
Este
texto mostra que houve épocas em que Deus não restringiu a manifestação do
pecado. Deus "os entregou", "os abandonou" aos seus
próprios pecados.
Romanos
13:3-4 "Porque os magistrados não
são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não
temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é
ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é
sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para
castigar o que pratica o mal". –
Punições
tais como multas, sentenças de prisão e outros é uma maneira de restringir o
pecado. (I Pedro 2:13,14)
2
– DIFERENÇAS DE GRAÇA COMUM E GRAÇA ESPECIAL:
A
diferença entre elas deve ser vista no resultado que elas realizam
naqueles que são totalmente depravados.
a.
A
Graça Especial tem uma conotação redentora, enquanto a Comum é sinônima de
não-redentora. A Graça Comum refreia o pecado, mas não muda a natureza. Ela
segura a manifestação do pecado, mas não o extingue.
b.
A
Graça Especial muda as disposições interiores retirando do pecador a inimizade
contra Deus. A Graça Comum não provoca mudanças na vida do pecador. É apenas um
freio.
c.
A
Graça Especial muda o coração, a comum muda apenas a atitude. A mudança
realizada pela graça comum é apenas moral e não espiritual.
d.
A
Graça Especial atinge somente os eleitos, enquanto a comum atinge a todos
indistintamente, como o próprio nome diz, é "comum".
3
– A NATUREZA DA GRAÇA COMUM:
Calvino
ensinou que há uma graça de Deus que restringe a manifestação do pecado na vida
humana sem remover a pecaminosidade humana.
Negativamente
= A graça comum restringe o pecado
a.
Restringe
a manifestação do pecado. Gênesis 20:6; II Reis 19: 27-28; Gênesis 4:14-15.
Pela operação do
Espírito, Deus evita que todas as potencialidades do homem para o mal se
manifestem em toda a sua violência.
b.
Restringe
a manifestação da ira divina. Rm 2:4.
Deus age sobre Si
mesmo restringindo a manifestação plena da Sua vingança contra atos maus dos
homens. A paciência de Deus para com os homens é uma manifestação da graça
comum. Temporariamente Ele suspende Sua ira.
Rm 2:4 - "Ou desprezas a riqueza da sua bondade,
e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz
ao arrependimento?
c.
Restringe
a manifestação da plenitude da pecaminosidade humana.
O ser humano é depravado, mas nem sempre
vemos a manifestação da sua pecaminosidade que seja proporcional com sua
potencialidade de pecar. O homem não peca tudo o que é capaz.
Positivamente: Promove a justiça
a.
O
irregenerado é recipiente da bondade de Deus.
Gn 39:5 "E, desde que o fizera mordomo de sua
casa e sobre tudo o que tinha, o SENHOR abençoou a casa do egípcio por amor de
José; a bênção do SENHOR estava sobre tudo o que tinha, tanto em casa como no
campo."
At 14:16-17 "o qual, nas gerações passadas,
permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos;
contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo,
fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso
coração de fartura e de alegria."
Lc 6:35-37 "Amai, porém, os vossos inimigos,
fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso
galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os
ingratos e maus.
Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso
Pai.
Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não
sereis condenados; perdoai e sereis perdoados;"
Lc 16:25 "Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te
de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males;
agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos."
A incredulidade dos
homens não é motivo para eles não receberem bênçãos de Deus.
b.
O
irregenerado é capacitado a fazer coisas boas.
O homem é incapaz de por ele mesmo fazer
coisas boas. Se as faz é pela graça de Deus (Mt 5:46; Lc 6:34).
Calvino diz que os incrédulos podem ser
revestidos dos dons excelentes de Deus (música, poesia, pintura, artes,
ciência, etc.).
"Toda
verdade vem do Espírito de Deus e portanto rejeitar ou desprezar as coisas boas
que os incrédulos fazem é insultar o Espírito Santo de Deus.
4
– OS MEIOS PELOS QUAIS O PECADO É REFREADO (Restringido)
a.
A
revelação geral de Deus (a natureza) – Rm 2:14-15
b.
O
governo civil – Rm 13:3-4 – I Pe 2:13,14
Multas, prisões,
etc...
c.
Os
relacionamentos sociais ou opinião pública.
Alguns pecados não contemos porque:
·
Somos
casados, temos uma família, vizinho, colegas, zelamos por nossa reputação...
5
– O PROPÓSITO ÚLTIMO DA GRAÇA COMUM
O
grande propósito da graça comum de Deus, como podemos deduzir, é o bem-estar do
povo eleito de Deus. Mt 24:21-22.
CONCLUSÃO:
Qual
o valor da Doutrina da Graça Comum?
1.
A Doutrina da Graça Comum sublinha o poder destrutivo do pecado.
2.
A Doutrina da Graça Comum reconhece os dons de que vemos nos seres humanos irregenerados
como dons de Deus.
3.
A Doutrina da Graça Comum nos ajuda a explicar a possibilidade da civilização e
cultura nesta terra a despeito da condição decaída do homem.
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